sábado, 1 de janeiro de 2011

Via de mão dupla

Admitindo Gilberto Gil como o pioneiro do reggae no Brasil, Husbands afirma que para ele, 80% do reconhecimento inicial do ritmo em Salvador se deve à afinidade primordial do atual ministro da cultura com o estilo de música da Jamaica, e sua irreverência ao colocá-lo em prática numa sociedade altamente tradicional e aversa ao que não se encaixava nos seus padrões em plena ditadura militar. Segundo Husbands, Gilberto Gil foi corajoso ao trazer para o Brasil da época, as influências de Bob Marley, que era um homem que lutava contra formas de opressão e preconceito no seu país e no mundo. Sergio além de dar a Gil todo o seu mérito, aponta o momento pelo qual passava o mundo: Revolução Feminina afrontado a sociedade patriarcal, Martin Luther King e suas idéias, dentre outros eventos e personalidades que chacoalhavam as estruturas sociais da época. Para explicar a raiz “reggaeira”, invoca a relação entre identidade e identificação: não importa mais onde nasce o cidadão, mas sim o que ele encontra no mundo a sua volta. Isso sim forma a personalidade. Um reflexo positivo da controversa globalização. As sementes haviam sido plantadas e sua germinação impossível de ser interrompida. Sendo assim os soteropolitanos têm uma relação de mais de 30 anos com o reggae e suas idéias.
Assim como na Jamaica, Salvador exibe uma semelhança quanto à parcela da população que aprecia o reggae. As camadas menos favorecidas nele encontram uma forma de protestar, conscientizar e expor sua condição de vida. Nos festivais Tributo a Bob Marley e República do Reggae realizados no Wet´n Wild, na Paralela, é comum superar a expectativa de mais de 25 mil pessoas por edição. Todas ávidas pelas performances de artistas locais, nacionais e internacionais. Fato que chama a atenção de Sergio “... os jamaicanos que vêm pra cá me dizem que não têm esse público em shows na Inglaterra...“. A maioria dos admiradores vem do subúrbio, quebra a barreira do idioma (inglês), faz coro nas canções, executa coreografias e leva consigo gigantescas bandeiras para ovacionar seus ídolos e demonstrar suas opiniões. Ambos acreditam que tudo é devido ao empenho do falecido rei do reggae Bob Marley, em passar mensagens de luta, justiça e liberdade durante sua carreira, sendo essa postura replicada por muitos dos seus admiradores, quer fãs ou músicos. E já é cada vez mais freqüente a presença destes ídolos na maior festa popular do planeta: o carnaval. Trios fazem os percursos com cantores e bandas inteiras se revezando perante as câmeras, para milhões de pessoas. Mas Sergio enfatiza: “... sou apaixonado pelo carnaval, pela tragicomédia do Pierrô, Arlequim e da Colombina, mas devemos botar os pés no chão (...), nenhum estilo musical do mundo que não tenha vindo da Inglaterra e/ou dos EUA se tornou uma música ouvida no mundo todo a não ser o reggae...”. Esse fato mostra sua importância para a cultura mundial.


Sobre o reggae feito aqui e na Jamaica, Husbands é categórico: “... o reggae é uma coisa só. Não importa se é feito na Califórnia, Brasil ou Jamaica (...) mas o reggae de Salvador é autêntico. Diferente do que é feito no resto do Brasil e no mundo...”; afirma. Ele já teve a chance de participar das cenas de Brasília, Rio de Janeiro, São Luis do Maranhão e Salvador onde vive e tem duas filhas “... uma delas faz backing vocals na minha banda, a Irie Positive Band“, completa com orgulho.
Apesar de todo esse reconhecimento e do advento da internet, que proporciona a divulgação de artistas independentes de qualquer parte do mundo através de sites especializados, e das ferramentas de comunicação online, a cidade ainda encontra dificuldades para exportar seus representantes, apesar de fazê-lo muito bem. Se encontra mais na posição de reduto do que uma vitrine iluminada para o caminho inverso. Bandas de outras partes do Brasil a exemplo de Cidade Negra (RJ) e Tribo de Jah (MA), têm seus trabalhos em mais evidência fora das nossas fronteiras. A exceção cabe a banda Adão Negro que pisou em solo jamaicano, lançou um álbum produzido pelo também jamaicano Clive Hunt, e está preparando um DVD que será gravado ao vivo em 2008. Há mais de dez anos na estrada, a Adão Negro desponta dentre outros grupos do gênero, por transitar entre “peões e playboys”, e já foi visto com desconfiança por estes dois lados da sociedade. A personalidade forte do grupo e suas idéias bem fundamentadas superaram essas barreiras que insistem em atrasar o interatividade social.


Segundo Husbands o futuro está cheio de oportunidades para a nação reggae aqui estabelecida. “... Jimi Cliff me deu a oportunidade (ele acompanhou seu colega jamaicano como backing vocal por sete anos) aqui em Salvador e eu agarrei”. Expandiu sua carreira estagnada no Suriname devido a falta de perspectivas, encontrando aqui um mercado cheio de pontes para outros maiores ainda. “... quem vem de fora e vai viver em outra cultura/sociedade, enxerga mais claramente as oportunidades...”, diz. Sérgio observa que Salvador já está começando a exportar sua estética reggae para fora do país. Na vanguarda, prepara um CD todo em inglês que será veiculado na Califórnia. Cassiano atenta para o fato de que o futuro do reggae em Salvador é promissor e depende das atitudes e profissionalismo de produtores, músicos, veículos de comunicação e público.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007


Jazz e Reggae se encontram com estilo em Salvador









A SURPRESA:
O Reggae invadiu o Jazz em Salvador, mais precisamente no Teatro ACBEU localizado no Corredor da Vitória. Vosso repórter foi surpreendido com a presença de Ricky HusbandsMike Ellis, chamado Mike Ellis & Bahia Band composta por Marcio Tobias (B.A.) - alto saxophone,
Gileno Santana - trompete, Mou Brasil - Guitarra, Munir Hossn - Guitarra, Marcos Sampaio - Baixo, Bira Reis Percussão, Andersosn Souza - percussão, Martinho da Cuica - percusão, Kinho Santos - percussão, Jorge Amorim - bateria (disco), Jorge Brasil - Bateria. Em duas sessões de aproximadamente uma hora cada, Mike Ellis mostrou toda uma mistura entre África, Europa, América do Norte e Brasil numa apresentação que constava com nada menos que 17 músicos no palco simultaneamente. Pode-se falar que a mistura não era apenas musical, já que a banda era formada por representantes do Brasil, Portugal e EUA, caracterizando todo o espetáculo de uma maneira bastante vivaz e autêntica.

HUSBANDS:
A participação de Husbands aconteceu na primeira sessão na música intitulada Bag´s Groove.
free style, colocando "um algo mais" de reggae na composição de Milt Jackson. O título Bag´s Groove, vem do apelido de Milt que tinha grandes bolsas de gordura abaixo dos olhos e pode traduzido como “Balanço do Bolsa”. Essa seria também a primeira e única vez em que Miles Davis e o famoso contra baixista Thelonius Monk teriam gravado juntos. A interpretação da Mike Ellis & Bahia Band é notável, cheia de negritude esbanjada nos vocais de Husbands, com delays (ecos) característicos do dub e no balanço hora reggae, hora samba-reggae em cima de uma base jazz bastante densa.
Vale à pena conferir o trabalho realizado com muita pesquisa, que resgata pérolas do jazz com interpretações peculiares e bem adaptadas à nossa cultura.
(jamaicano, cantor de reggae) em participação especial no lançamento do disco de Ele recheia a performance com


quarta-feira, 28 de novembro de 2007


Iniciativa e atitude. "Reggae eletrônico" balança a cidade

A INTERVENÇÃO:
Uma tarde diferente foi o que presenciei quando me predispus a fazer uma apuração da última edição do ano do movimento que ganha cada vez mais corpo nas ruas da cidade: o Mutirão Mete-Mão, promovido pelo MiniStéreo Público em parceria com a Zero Sete Um Crew. O primeiro é um grupo peculiar do cenário de música reggae de Salvador enquanto que o outro faz parte do universo do graffiti (estilo de arte de rua, que ganha cada vez mais força na nossa cultura). Composto por um grupo de dj´s e vocalistas, o MP faz do dub (vertente eletrônica da música reggae, daí dj´s e vocais rápidos e ritmados) e suas variações suas principais formas de expressão. Surgido em 2005 o MP é formado por seis integrantes quatro dj´s (chamados selectahs), dois vocais (chamados toasters) além de um técnico de som, peça fundamental para que tudo dê certo: Dudub (Roots Reggae, Dub e Dancehall), Pureza (New Roots e Ragga), RaizDfrenSS (Ragga-JuNgle), Russo e Fael 1. O técnico de som se chama Regivan. Para eles o dia começou cedo, já que a festa estava prevista para ser iniciada às 10h da manhã e só foi terminar pouco após as 20h. Impressionado? Pois é... muito sol na cabeça, muita energia positiva e cultura das mais diversas formas acontecendo ao mesmo tempo: música, dança, graffiti, intervenções circenses (palhaços, malabares -vídeo no final da matéria) e improvisos vocais feitos na hora, além da Esquadrilha da Fumaça que se apresentava na orla e volta e meia, fazia suas perigosas acrobacias para o nosso “camarote” em frente à Igreja de São Lázaro, no local de mesmo nome. Chegando por volta das 15h (impossível comparecer mais cedo devido a um curso de extensão que não aconteceu, mas essa é outra história...), me deparei com a galera mais fiel ao som do grupo e grafiteiros deixando sua marca nas paredes dos bares que permitiam. Obras feitas na hora é só pra quem pode! E o clima melhorava cada vez mais com a chegada das tribos que já são leais seguidoras desse mutirão: rappers, skatistas, os já citados grafiteiros, músicos da cena, artistas de rua, universitários, estrangeiros e muito mais gente. Mas o que chamou a atenção do nosso fotógrafo (que sou eu mesmo...) foram esses caras que transformam paredes vazias em painéis cheios de arte. Através de trabalhos solo ou em conjunto com as crews (nome dado aos grupos de grafiteiros, cada um com nome e identidade própria). Ao contrário do que se pode pensar, a olho nu não enxerguei rivalidade entre eles e sim muita união expressada nos grafites realizados.
(Dancehall e Ragga),

Entre eles estavam: RB´K, Limpo T. U., Bigode, Saint, AC, e o próprio Ras Fael 1º. Todos fazendo arte espontânea.

AS CULTURAS:
Segundo Dfrenss, Dudub observou que o Sound System tinha futuro nas ruas de Salvador devido ao caráter festeiro do soteropolitano e suas tradições envolvendo festas de largo. Essa comparação deu força para a criação do "sistema de som perambulante" que o MP luta para levar a comunidades como Saramandaia, Bairro da Paz, Garcia, o já citado São Lázaro dentre outras que fizeram parte do itinerário do grupo. O termo luta é devido à falta de apoio quando nos referimos ao trabalho que o MP vem realizando ao levar música e arte de graça para várias . "Ninguém ganha dinheiro com a música..." afirma DfrenSS. Dá pra ver que em geral o Mutirão Mete-Mão é bem aceito nas comunidaddes nas quais chega de assalto.
A música brasileira é parte mais que integrante das influências deles, e fará parte das suas performances em breve, seja em samba reggae, samba ou o que mais vier à cabeça. Sendo o objetivo deles estarem presentes em festas populares, essa mistura será de grande valia. Gilbero Gil, Bob Marley, Peter Tosh são só alguns nomes que podem entrar nesse caldeirão cultural. "(...) a galera evoluiu nessa pesquisa, cada um pesquisando uma coisa diferente..." observa DfrenSS. Ainda ele, o acesso à informação está cada vez maior e assim como eles têm mais chances de pesquisa e divulgação das suas ações, o público também tem mais canais para saber o que está rolando de bom e inusitado na cidade "... a periferia tem mais acesso à internet (...) basta você querer buscar informação..." atesta o selectah.
Outro ponto marcante são os já citados improvisos, um dos pontos altos do Mutirão. A galera que comparece tem a oportunidade de curtir representantes do rap e ragga; e não importaria se fossem repentistas, pois a política do grupo é clara: a arte é livre e espontânea e essa prática de deixar o espaço aberto para intervenções, gera emoções e momentos únicos para integrantes do movimento e audiência, algo mais que gratificante para o MP. Onde será que pode chegar tal miscelânea? Que artistas vão surgir dessas manifestações no futuro? Com certeza estamos assistindo o nascimento de uma nova tendência em Salvador. Pioneirismo e atitude são as palavras de ordem. Fayaka!!

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